segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

PENSAMENTOS SOLTOS 2

Motorista de taxi em Antananarivo, Madagascar, 02/2012

PENSAMENTOS SOLTOS 2
Celso de Lanteuil
Inspirado no Livro dos Abraços
De Eduardo Galeano
Lisboa, 04/10/2012

NOVE
A fome de abraços e beijos
Aumenta com a fome de feijão, ou será que não?

DEZ 
Deus caminha só na sua interminável jornada
Pensa só, ama só
Sofre na solidão e decide sozinho
Quem chora e quem é feliz

ONZE
Atenção cidadão que tenta manter a lucidez!
O sistema separa e determina
Vozes se calam
Memórias esquecem
Pensadores silenciam
Corações se distanciam
A História se apaga
E se repete

DOZE
A cultura do trabalho
É invenção do sistema
Não se pode ser feliz
Não se pode disso falar
É preciso trabalhar
Até a morte chegar...

TREZE
Idiotas
Só sabem copiar modismos
O modo de viver de outros povos e culturas
São especialistas em serem aquilo que não são

QUATORZE
Todos nós em algum momento queremos nos esconder
Inclusive de nós mesmos
Mas ter que medir as palavras cansa
Fingir para nossos amigos estrangeiros que o brasileiro vai bem
Porque o Brasil está sempre na mídia, bombando como se diz por aí
Não é para mim
O Brasil não é somente o país da Copa e das Olimpíadas
É também a nação dos brasileiros escravos
Das novas e velhacas elites, do povo sem teto, violento e corrupto
De uma classe política corporativa e cruel
Apesar do povo trabalhador, honesto e solidário
Temos também muitos ladrões e gente que adora "um jeitinho"
E que sofre cantando, sorrindo, tomando cachaça e antidepressivo...

QUINZE
Estranhas são as pessoas. Gostam de reverenciar os mortos
Negam-lhes o reconhecimento em vida
Falta o hábito e a coragem para dizer

Você é um excelente profissional
Sobram-lhes qualidades
Suas habilidades me surpreendem...

Preferem ir ao velório
E lá proferirem os seus discursos
Repletos de elogios pomposos

DEZESSEIS
Deixem-me ficar por aqui
Ainda há muito para fazer
A vida faz ótima parceria comigo
Gosto do que ela oferece

Das suas tantas contradições
Dos seus tantos segredos
Da sua gente e natureza
Acho que ainda posso muito contribuir

Para diminuir o medo, a angústia
A estupidez dos homens
A destruição que este cria...
Mereço esta chance

Trabalhando para não roubar


quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

PENSAMENTOS SOLTOS

Elétrico
Porto, Abril de 2011

PENSAMENTOS SOLTOS
Celso de Lanteuil
Inspirado no Livro dos Abraços
De Eduardo Galeano
Lisboa, 04/10/2012
 
UM
Sou muitos abraços
O abraço apertado
O abraço impedido
E aquele esquecido
 
Sou o abraço partido
O que não chegou a ser
O abraço distante
Que o exílio esconde
 
DOIS
Não há exílio
Que apague
A memória
De uma vida
 
TRÊS
O bom senso da hierarquia
Quase sempre é uma merda
 
QUATRO
Os índios não são superheróis
 
CINCO
O esquecimento e a ignorância
São muito parecidos
 
SEIS
Não há borracha
Ou aspirador de pó
Capaz de limpar
A sujeira da nossa história
 
SETE
A liberdade assusta
É para quem sabe ser livre
 
OITO
Para escapar da realidade
E da dor que ela produz
O homem inventou a superficialidade

Vitrine de uma loja de roupas e artigos em geral
Serra do Gerês, 08/2012

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Road to Zimmerman

Bob Dylan L'Explosion Rock 61-66
Cite de La Musique, Paris, 07/03/2012

ROAD TO ZIMMERMAN
Celso de Lanteuil, Lyrics and song
Rio, 11/04/2011
To one of my heros

Have you ever realized, you're developing a stupid mind?
Can you see the exits in the road that leads to a false paradise?
Are you able to show some control, when the politician says he knows?
Are you capable of some kind of mercy, when this thief stabs your soul?

REFRAIN
No compassion at all
No ladder to heaven
No pity to show
No blood to share

Are you still locked in this thought?
Can you find a meaning for life?
Are you lost in this mist of dreams that tease you and keep you tied?
Have you played good samaritan today or did you take the faith of a mate?

REFRAIN
No compassion at all
No ladder to heaven
No pity to show
No blood to share

An important moment
Paris, 07/03/2012


segunda-feira, 19 de novembro de 2012

VAMPIROS

Entrada de um restaurante em Santiago de Compostela
Galícia, 11/2012
 
VAMPIROS
Celso de Lanteuil, Letra e música
Ernesto Paim, música
Rio, 29 04 2011 
 
(Som de tambores)
Você não quer cantar
Você não tem fé
Você não sabe brincar
Você come plástico!
 
Você não bebe água
Você não toma banho de Sol
Você não sabe beijar
Você não sabe sofrer por alguém!
 
REFRÃO
Vivemos da vida
É o que sabemos fazer
Seja por instinto, hábito, crença ou prazer
Comemos a vida que nos rodeia
Na geladeira guardamos nossas guloseimas
 
(BIS)
São os bichos que comemos
 
Nos escritórios, em família, onde for
Engolimos vivos os nossos irmãos
Tudo para continuar adiante
Tudo para continuar adiante
E recomeçar no amanhecer
E recomeçar no amanhecer
 
REFRÃO
Vivemos da vida
É o que sabemos fazer
Seja por instinto, hábito, crença ou prazer
Comemos a vida que nos rodeia
Na geladeira guardamos nossas guloseimas
 
(BIS)
São os bichos que comemos
 
REFRÃO
Vivemos da vida
É o que sabemos fazer
Seja por instinto, hábito, crença ou prazer
Comemos a vida que nos rodeia
Na geladeira guardamos nossas guloseimas

São os bichos que comemos...


AFOBADO

Agra, caminho para o Taj Mahal, 12/2011


AFOBADO
Celso de Lanteuil
Porto, 17/11/2012

Afobado
Afobado para viver
Esbarrando, tropeçando
Correndo para não deixar de ver

Afobado. Afobado para tocar
Sentir e respirar. Segue passo apressado
Nas encruzilhadas
Diante das portas que se abrem e fecham

Entre o ir e o vir
Inconformado
Querendo decidir
No meio das regras e da estupidez

Sem parar
Sempre afobado
Tentando agarrar
E não deixar escapar

Luz, pensamento
Aquele instante, torná-lo impressionante
No descompasso. Disforme
Possível e improvável. Pequeno e eterno

Neste absurdo mundo das contradições
Passando pelas liberdades e prisões
Pelos derrotados e os campeões
Da lamúria ao gozo, da lâmina que mata e cura

Nestes opostos que nunca se veem
Dos que se doam, dos que se vendem
Aqueles que enxergam mas nunca sentem
Os que valem bilhões e os escravos

Afobados vamos seguindo
Para recuperar o minuto passado
Com a crença e a descrença, a paz e o horror
Sendo bárbaro, sendo amor

Próximo ao pedágio de Gurgaon, New Delhi, 11/2011

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

TEMPO APRESSADO

Registro histórico feito por Nick Ut (AP), guerra do Vietnam  
Durante e após a explosão de bombas napalm
Museu de Ciência de Londres, 2012  

TEMPO APRESSADO
Celso de Lanteuil
National Gallery
Londres, 05/11/2012
 
Tudo passa. Avião, invenção
Nuvem negra, solidão
Tudo passa bem veloz
Tua história, tua voz
 
Uma estrada é o que tens
Com saídas e conexões
Tudo voa, vai e vem
Corre rápido, nem se vê
 
É da vida, coragem
É a vida, vadia
Que se vive, na gula
E nos leva, com ternura. Ou não
 
Na cabeça, nas viagens
Nessa terra, noutro tempo
Tudo passa. Fraude, pulmão, ave, furacão
Microvida, inveja, ambição, imensidão
 
Que se enxerga. Que se toca
Invisível. Indivisível
Tudo passa nessa vida. Joia, roupa, conquista
Guerra, festa, saber, moda, poder
 
É da vida, a fúria. É a vida, do medo
Que nos leva, lutando
Nesse tempo que esfarela
E não consegue permanecer
 
Vai adiante tempo ágil
Mudando por onde passa
Passado, presente e futuro
Vai moldando, ajustando
 
Refaz, apaga
Reconstruindo
Sempre seguindo
Em todas direções
 
Leva a arte, qualquer arte
De fabricar, articular, pintar, costurar e moldar
Da estratégia de mal dizer, de guerrear
Do invento de matar e curar
 
Leva tudo por onde passa
Infecção, flor, melancolia, fé, adoração
Amor, imaginação, formação, educação
Gentileza, agressão, pedra, rio, vulcão
 
Só nos deixa o que fomos
O que fizemos e deixamos por fazer
Que se mistura na terra, no ar
Nessa vida que não sabemos explicar

Ponte do Século 14 que cruza o Rio Lima
Este deu origem ao nome da vila mais antiga de Portugal
Ao final desta ponte, outra menor do século 1, construída pelos Romanos


MÚSICA NO AEROPORTO

Musicians in Boston make people's life easier
21/10/2012
MÚSICA NO AEROPORTO
Celso de Lanteuil
Porto, 02/11/2012
Enquanto aguardava o embarque no aeroporto do Porto
Hugo Lopes no Sax e Miguel Pedrosa na Guitarra
Tornavam a espera em obra de arte

Tap, tap
Tap, tap
Goes smooth
Rhythm of the soul
A pair of shoes
 
Tap, tap
Tap, tap
Rolling in the air
Dancing with no care
The eagle of the blues
 
Tap, tap
Tap, tap
Cinderella of a dream
Melody of life
Like a flower and a bee
 
Tap, tap
Tap, tap
The orchestra of the nature
The song that makes us dance
An endless path, never the same

A musician delivers his soul at the metro station
Boston, USA

terça-feira, 13 de novembro de 2012

JOÃO VEM AÍ

Aimé-Jules Dalou, 1873
Peasant Woman Nursing a Baby
Victoria and Albert Museum, London
 
JOÃO VEM AÍ
Celso de Lanteuil
Lisboa, 24/10/2012
O meu sobrinho neto está chegando...
 
O amor faz milagres
Ele nasce onde menos se espera
Nos envolve sem se fazer notar
Cresce como um feto
 
Cria braços, pernas, dedos, coração
Ele nos abraça na hora certa
Quando nossos planos falharam
Não desiste nunca
 
O amor é paciente para aprender
Enfrentra o medo, a intolerância, a doença
Resiste quando necessário
Mesmo nas questões materiais e morais
 
Ele pede muito de nós
Mas tem esse direito
O amor é arma poderosa
Vence batalhas impossíveis
 
Destroi a tristeza, cura, constroi
Educa, faz nascer
É guarda costas para qualquer ocasião
Em troca, nos pede atenção

Jovens senhoras numa caminhada matinal
London Town

To JFK and BOB KENNEDY

JFK LIBRARY
Boston, October 2012

To JFK and BOBY KENNEDY
Celso de Lanteuil
Boston, 22 of October 2012
 
What a coincidence!
Right after writing these thoughts I had the chance to visit the JFK Library in Boston
There I learned a little bit more about democracy
That’s the reason I dedicate these few words to the brothers, with great respect
 
Lean on me and brought me your fears
Give me your failures and concerns
I will heal your wounds, help you with my hope
Wet your flowers
Clean your soul from the pain
 
I will give you my dreams
Music and lyrics, my best poetry
Good reasons for living
Build a future with dignity
And share with you what I love most
 
The harsh your life becomes
The more we will renew our strength
And increase our stamina
Struggling for peace
Freedom and democracy   

JFK LIBRARY
Boston, October 2012

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

OUTRO TEMPO

Criança de rua em Antananarivo
Madagascar, Março de 2012
OUTRO TEMPO
Celso de Lanteuil
Ilha da Praia – Lisboa 24/10/2012
  
Houve um tempo em que eu voava sem saber
Olhava sem enxergar
Tocava sem sentir
Ouvia sem escutar
Sentia sem perceber
 
Época em que pensava fossem as horas só minhas
Quando eu entendia somente o que via e encostava
Sonhava sem compreender
Foi-se o tempo em que eu brincava e era feliz
Vivia sempre por um triz, deixando a vida seguir
 
Então certo dia o meu riso mudou
Foi a seriedade do viver
Ele me fez aprender
Há tempo para cantar
Trabalhar e lutar
 
Hoje eu tento encontrar aquelas horas
Que ficaram bem lá atrás
Nos braços da minha inocência
Onde conheci gente, aprendi a amar e sonhar
Tempo que me leva a insistir e desejar mudar
 
Trabalhando desde o colo

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

BEM NO MEIO

BEM NO MEIO
Celso de Lanteuil
sobre fotografia de multidão, aula da Mestra Ninfa Parreiras
Estação das Letras, 23/01/2003
 
Mensagem de Robert F. Kennedy
JFK Library, Boston

Impossível não sentir um aperto no peito
Perceber a vontade
Entender a necessidade
Saber o porque
 
Pensei em desistir
Em largar tudo para lá
Pois no começo éramos poucos
Mas sonhávamos com convicção
 
Talvez tenha sido essa a nossa maior força
Então vieram outros a saber o que estava acontecendo
E muitos outros mais se aproximaram de nós
Queriam descobrir por que estávamos com tanta vontade
O que nos animava tanto
 
Alguns perguntavam o que ganhariam com tudo aquilo
Que garantias receberiam...
Quando de nós ouviam que as vantagens não eram imediatas
Que o lucro não era em moeda
Corriam
 
Corriam para o outro lado
Corriam para bem longe
E nos maldiziam, nos atacavam
Que absurdo!
Que luta é essa que não dá dividendo?
 
Mas ainda assim, insistimos
Mostramos que o amanhã bom, é bom para todos
Que segurança boa, é aquela em que todos podemos ir e vir
Sem medo
E que enquanto há resistência existe esperança
 
Com fome, a vida é prisão
Seja fome de pão
Fome de teto, de amor
De sonho
Fome de trabalho e profissão
 
O tempo passou
Quando me dei conta
Lá estava eu no meio daquele povo
Sem enxergar a outra ponta
De tanta gente presente, de tanta gente...


Um pedaço do muro de Berlim
Peça símbolo da força da democracia
Doada ao Museu JFK, 10/2012


terça-feira, 30 de outubro de 2012

AMIGOS

Amigos da cidade
Porto, outubro de 2009
AMIGOS
Celso de Lanteuil
Praia, 16 de Agosto de 2012
 
Não existem melhores amigos
Eu não acredito em pior amigo
Ou se é amigo, ou se é outra coisa qualquer
 
Amigos tem defeitos
São azedos, irritados, por vezes agressivos
Possuem inimigos, tem manias
 
Mas nos compreendem e nós a eles
Fazem confidências
Guardam as nossas
 
Nos conhecem
Prestam atenção no que fazemos
Sabem dos nossos desejos e sonhos
 
De quando estamos amargos
Tristes, fortes, alegres ou fracos
Conhecem o nosso jeito
 
Olham e percebem o que podem esperar
Aguçados observadores 
Das nossas dores, fraquezas e angústias
 
Adoram nossas histórias
Discordam das nossas idéias, naturalmente
Nos enxergam corajosos e invencíveis

Nossas fraquezas relevam
Mas nos dizem quando é hora de parar
Hora de pedir perdão
 
Entendem explicações
O modo como interpretamos a vida
Aceitam nossa ausência. Nunca nos esquecem
 
Se o tempo escapa rápido demais
E na distração da vida nos afastamos
Eles esperam. Sabem que na primeira chance voltamos...
 
De sorrisos, abraços, caminhadas, dores e lutas
Um amigo vai se formando
Para lá estar, na hora certa sem falhar
 
Pode-se viver em conflito, na dor ou na doença
Não se ter dinheiro ou recursos
Mas tudo se ameniza, quando ao lado se tem um amigo

Amigos em Stansted Mountfitchet Castle
UK, Agosto de 2007
 

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

PEDRA PORTUGUESA

Calçada do século 16, Cidade Histórica
Ilha da Praia, Maio de 2012

PEDRA PORTUGUESA
Celso de Lanteuil
Praia 07 de Junho de 2012
  
Cada pedra portuguesa se encaixa num espaço
Há um ponto, um ângulo, um corte, uma forma desigual
Que ao ocupar seu lugar, vai formando um painel
 
O Homem, como os animais, os vegetais e minerais, ocupa também um lugar
E na sua diferença de ser, estar, fazer e poder
Ajuda a criar um outro tipo de mosaico
 
Se uma pedra sai da sua posição abre-se um vazio
Este poderá provocar um desequilibrio
Pedras podem se soltar, o piso ceder, um buraco surgir
 
O Homem conseguiu chegar até aqui muito por sorte
Continuou sua existência
Também por subjugar adversários naturais com a ajuda dos seus pares
 
Grupos sociais e sociedades se organizaram
É o que temos
De uns tempos para cá, um novo representante da espécie vem ganhando consistência
 
Ele pensa somente nele
Trabalha, goza, produz
Sonha para ele
 
Conquista e constroi para se satisfazer, e encontrar sua felicidade
Ele não se percebe como a pedra portuguesa
Que ao se acomodar entre outras formatações imperfeitas forma um todo

Elétrico circula entre calçadas com pedras portuguesas
Lisboa, Maio de 2012

INESPERADO BOM

Locais secam suas roupas a beira mar
Cidade Velha, Ilha da Praia, Cabo Verde, Maio de 2012

INESPERADO BOM
Celso de Lanteuil
11/12/2002

Brisa boa
Sol da manhã
Marola calma
Água fresca
Areia pra pisar descalço

A pele aquece devagarinho
Queima bem suave
Inesperada suavidade
Fica me lembrando sem se fazer perceber
Aquilo que eu já havia esquecido ter

Eu de paletó e gravata recordo
A impropriedade da roupa questiona
Onde estão os meus sonhos?
Para que tamanha sobriedade?
Por que tanta formalidade?

Faz-me falta a imaturidade juvenil
Aquele desejo de arriscar
E brincar
Quando foi mesmo que deixei escapar?
Quantas mudanças sem perceber!

Tenho vontade de tirar o paletó
Arrancar a gravata, ficar de cueca
Sem sapatos e meias
Jogar o relógio no mar
Lap top, agenda e celular

Ensaio o movimento de afrouxar o colarinho
É o melhor que consigo fazer
A buzina me chama de volta
É o tempo presente que não aguarda
Vou
Crianças jogam futebol na Cidade Velha
Ilha da Praia, Maio de 2012



NAVIOS NEGREIROS NÃO AFUNDAM


Restos de um navio
Ilha do Sal, Julho de 2012

NAVIOS NEGREIROS NÃO AFUNDAM
Celso de Lanteuil
Rio, 19 de maio de 2006
Acho que inventei a palavra “cambalhotam”

Pobre percepção         
Destas pessoas que só enxergam as próprias mãos
Que só visitam os seus lugares
E contam apenas seus casos

Pobres corações
Juízes implacáveis das multidões
Tolerantes das suas transgressões
Algozes por convicção, sempre em nome da paz

Silêncio cidadão!
Nos porões, negros escravos vomitam as tripas
Esfolados vivos
Suas almas gritam

Nos sinais da cidade
Crianças malabaristas
Cambalhotam por atenção
A cidade indiferente passa

Grita a vizinha que o cachorro dela morde
Que come gente viva
E que na desordem da vida
Ela é que lhe dá a comida

Correm apavorados senhoras e senhores
Donos de índios, japoneses, brancos e africanos
Escondem-se assustados
Nas suas casas fortalezas, bem protegidos de gente

Você que ganha salário sempre mínimo, guarda trocado e sonha barato
Que economiza o sapato e cata no chão uma solução
Você que sorri com os dentes nas mãos. Cuida-se!
Eles te querem de quatro amarrados num porão

População desfavorecida
Ilha do Sal Julho de 2012


segunda-feira, 30 de julho de 2012

OPERAÇÃO MATEMOCIONAL

Litogravura de Rodrigo Cunha
primeiros trabalhos

OPERAÇÃO MATEMOCIONAL
Celso de Lanteuil
Rio, 31/01/03
Introdução aos Gêneros Literários
Estação das Letras, Suzana Vargas

Simples
Muito simples
Como 2 + 2 são 4
Não como 1327 divididos por 33

Existem pessoas
E pessoas
Umas são 2 + 2
Outras são 7231 divididos por 95

Pessoas que sonham
Que partilham
Dividem o pão
Constroem o chão

Existem as que insistem
Em construir muros e labirintos
Para lá dentro viver
E nos prender

Pessoas são fáceis
Difíceis
São para mais
E de menos

Sabem diminuir
Especializam-se em dividir
Boas em multiplicar
Outras em somar

Quantas operações
Tantas fórmulas
Equações
Haja cálculo!

O milagre dos peixes
Vila de pescadores na Ilha do Sal 07/2012



terça-feira, 26 de junho de 2012

TO MY OLD FRIEND

One of my favorite albums
Toots Thielemans and Elis Regina, Aquarela do Brasil
Recorded in Sweden 1969
Great musicians around: Antonio Adolfo, Roberto Menescal, Wilson das Neves
Jurandir Meirelles, Hermes Cortesini

THE CAPTAIN OF THE MELODY
Music and lyrics by Celso de Lanteuil
Porto, 07/11/2011 

I am talking about a simple man
A genius of emotion
The bright mind of the blue note
A master of the Jazz

His first love was Elis
Sivuca, Tom, Ivan Lins
He travelled many times to Rio
His soul is a bit carioca

He is a kind of masterpiece
The hero of a nation
A Belgium gentleman
The Captain of the melody

I met him at Copenhagen
He took me to the Tivoli
Invited by the Queen
To play with the local symphony

He introduced me as his manager
And put me on stage
And played The Shadow of Your Smile
Amazingly

He gave us Bluesette
His music will last
He gave us his best
Toot’s, the Captain of the melody

One of my favorite records is Old Friend
Arranged and conducted by Ruud Bos
Produced by Cess Schrama, Photography by Moot Gerretsen 
(from my discography)